Sabe-se através dos inventários bandeiristas que, na região de Piratininga, tocava-se guitarra (inventário de Catharina d'Horta, 1626), sistra (inventário de Francisco Leão, 1632) e violas e harpas, uma das quais pertencera ao bandeirante Sebastião Paes (de Barros), inventário de 24.12. 1688, e outra, que figura no testamento de Affonso Dias de Macedo, em 1703, explicitada como viola de pinho do reino).
Ainda sobre o assunto, Paulo Castagna (2000) reitera a questão citando vários documentos históricos referentes a processos de inventários registrados no Brasil entre os anos de 1604 e 1700,54 arrolando entre os bens, inclusive violas, resumindo sua importância e presença em ambos contextos:
- -"Viola, de propriedade de Mécia Roiz, São Paulo entre 01/08/1605 e 04/02/1606.................160 reis
- - Viola/guitarra, de propriedade de Paula Fernandes, São Paulo - 19/09/1614..........................640 réis.
- - Viola, de propriedade de João do Prado, São Paulo.23/09/1615........................................1,280 réis.
- - Viola, de propriedade de Balthazar Nunes, SãoPaulo - 06/1623.........................................1,280 réis.
- - Viola, de propriedade de Leonardo do Couto,Parnaíba - 03/08/1650...................................320 réis.
- - Viola, de propriedade de Sebastião Paes de Barros, Parnaíba - 24/12/1688................2,000 réis.
- - Viola, de propriedade de Afonso Dias de Macedo Itú - 20/03/1700.............sem informação de preço".
Sebastiao Paes de Barros era ou que até hoje se chama "um sertanista e bandeirante" que Silva Leme estuda no volume III de sua «Genealogia Paulistana», pg. 502. e que principalmente era em busca de ouro e minerais !
Também muito notável pelos serviços prestados à coroa; esteve a partir de 1670 na qualidade de cabo em Tocantins e no Maranhão com o governador Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho. Datada de 24 de abril de 1674, há uma Carta do Príncipe Regente D. Pedro, futuro D. Pedro II, a ele dirigida como Cabo da Tropa do Sertão do Maranhão:
"Cabo da tropa da gente de São Paulo vos achais nas cabeceiras do rio de Tocantins, e Grão Pará», isto é, sertões do rio São Francisco e do atual Estado do Piauí até as margens do Tocantins, no Maranhão. Exortando-o a remeter a Portugal amostras dos minerais descobertos. "
- 1-2 Antonio Pedroso † solteiro § 2º
- 1-3 Lucrecia Pedroso § 3.º
- 1-4 Izabel Pedroso § 4.º
- 1-5 Luzia Leme § 5.º
- 1-6 Leonor Leme § 6.º
- 1-7 Sebastião Pedroso § 7.º chamado depois Sebastiao Paes
Declarou o Capitão Sebastião Paes de Barros ter tido de seu casamento dois filhos e cinco filhas que segundo seu inventário foram:
- 1. A mulher de João Coelho da Fonseca, não nomeada no inventário, mas seu marido é chamado às partilhas. Provavelmente a mais velha das filhas, seria já casada na abertura do inventário.
- 2. Lucrecia Pedroso, nascida por 1658, em 28-5-1679 já casada com Miguel Soares Ferreira
- 3. Joana de Barros, nascida por1660 (substituída por Izabel de Pedroso na GP, numéro 1-4 supra)
- 4. Luzia Leme, nascida por 1661, legatária da terça do pai juntamente com a irmã Leonor
- 5. Leonor Leme, nascida por 1667
- 6. Sebastião Paes (1-7 Sebastião Pedroso na GP supra), nasceu por 1663 e faleceu em 1688. O violão vendido foi de sua propriedade.
- 7. Antonio Pedroso, provavelmente o primogênito, faleceu nos sertões do Maranhão juntamente com o pai
O Capitão Sebastião Sutil de Oliveira por ordem do Capitão Thomé de Lara de Almeida e por eles foram apresentados os bens que o defunto Sebastião Paes possuia os quais são os que adiante se seguem e neles se quer pagar o dito Capitão Thomé de Lara de 108$000 rs que é a dever o dito defunto o que tudo consta ao Capitão Fernão Paes de Barros *) o qual é consentidor á satisfação do pagamento do muito ou pouco que os ditos bens renderem ou derem sendo vendidos em praça como é licito dentro no tempo do licito o que dispõe a lei serão entregues ao dito Thomé de Lara para deles dispor como seus e pagar-se neles no valor em que forem avaliados e o dito juiz houve por desobrigado ao dito Capitão Fernão Paes de Barros e a Manuel de Abreu a Domingos Paes obrigações do dito Capitão Fernão Paes (...).Avaliações: soma a fazenda lançada 53$140 rs.Arrematações.
Thomé de Lara, em vez era genro de Antonio de Almeida Pimentel e de Lucrecia Pedroso de Barros, Lucrecia era tia do violeiro Sebastiao Paes .Refere a genealogia paulistana que Antonio de Almeida Pimentel foi de conhecida nobreza pela qual teve em S. Paulo e na Bahia grandes estimações. Teve com Lucrecia Pedroso um unica filha que era Maria de Almeida Pintel, a qual casou com o dito capitãoThomé de Lara. Este ultimo era capitâo em Sorocaba
Historia
O primeiro instrumento de cordas que se tem notícias que chegou ao Brasil foi a viola de dez cordas ou cinco cordas duplas, muito popular entre os portugueses e precursora do violão, trazida pelos jesuítas portugueses que aqui chegaram para catequisar os índios e a usavam durante a catequese.A coroa Portuguesa objetivava levar as suas colônias o trinômio de sua colonisaçâo que significa, o rey, a lei a a fé. A fé ficou a cargo dos Jesuitas com Manoel da Nobrega.Necessitou de mais braços para a atividade de evangilzação do Brasil a assim chegou no 1553 Padre José de Anchieta.
Todo o processo de catquese é na verdade intervençao intencional em valores culturais. Para catequisar os jesuitas criaram uma lingua artificial de nome nhengaatu.
Para conceitos e objetos estranhos à língua emprestaram-se inúmeros vocábulos do português e espanhol. A essa mistura deu-se o nome ie’engatu, que significa "língua boa". Não se falava o portugues até o final do sec. XVIII, mas o nhengaatu. sendo usada não apenas por índios e jesuítas, mas também como língua corrente de muitos colonos de sangue português.
Segundo o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, até fim século XVIII, em São Paulo, falava-se a língua geral, o "nhangatu", uma derivação do tupi. Foi uma língua imposta pelos missionários, até hoje ouvida em alguns locais da Amazônia.
Padre Anchieta percebeu que os povos indigenos mantinham uma relaçao com o mundo sagrado tendo sempre a musica como strumento de intermediação. Anchieta assim realizava dramatzações com os indigenas, nas quais associava as coisas de natureza (terra, animais, plantas) estranhas ao mundo europeo. Tratou de aprender danças e melodias indigenas nas quais inseriou textos liturgicos em tupi.
Essas danças sâo ainda hoje presentes na musica dos caipiras: cururu e cateretè.
Em 1584, José de Anchieta em sua "Informação do Brasil e suas Capitanias", referindo-se a uma das aldeias de índios do colégio da Bahia, relata:
"(...) les enseñam a cantar y tienem su capilla decanto y frautas para sus fiestas, y hazen sus dançasa la portuguesa com tamboriles y vihuelas com muchagracia, como si fueron muchachos portugueses".
A nobre família dos Penteados teve origem em São Paulo em Francisco Rodrigues Penteado, natural de Pernambuco, para onde veio ser morador seu pae Manoel Correa com casa, saindo de Lisboa; e em Pernambuco se estabeleceu com negocio grande.Tendo este filho Francisco Rodrigues Penteado ( 8° avô de Tiffany*) já bem instruído em artes liberais, sendo excelente e com muito mimo na de tanger viola, e destro na arte da música, seu pai o mandou a Lisboa sobre dependência de uma herança que ali tinha; o filho, porém, vendo-se em uma corte das mais nobres da Europa e com prendas para conciliar estimação, cuidou só no estrago que fez do cabedal que recebeu, consumindo em bom tratamento e amizades:Refletindo depois que não estava nos termos de dar satisfação da comissão com que passara de Pernambuco a Lisboa, embarcou na frota do Rio de Janeiro com Salvador Correa de Sá e Benevides em 1648, o qual tendo de passar a Angola, como passou, para a restaurar dos holandeses, o deixou na cidade do Rio muito recomendado pelo interesse de instruir nos instrumentos músicos a suas filhas e ao filho mais velho Martim Correa com quem estava unido pela igualdade dos annos. Do Rio de Janeiro, pela demora em Angola do dito Salvador Correa de Sá, que ficou feito general daquele reino, passou para a vila de Santos Francisco Rodrigues Penteado;e já desta vila subia para São Paulo contratado para casar com uma sobrinha de Fernando Dias Paes,[Clara de Miranda, nota por Tiffany] que foi quem o ajustou para este casamento".
Efeitivamente é curioso pensar ao bandeirante tocar o violâo. Não acho que foi vida romantica como referido nas pinturas. Sobre a vida dos bandeirantes se sabe bem pouco e as descriçoes sobre eles risultam do sec. XIX ou "Romantismo" quando foi "costurido" ou formulado o "mito" sobre os bandeirantes paulistas.
A pesquisa histórica revela uma realidade bastante diferente: a maioria dos bandeirantes andava descalça e com roupas muito simples. Na verdade, todas as imagens que vemos dos bandeirantes foram feitas muito tempo depois da época em que eles viveram. Não existem retratos de bandeirantes realizados no momento em que esses homens viveram. Por isso, nada sabemos sobre suas fisionomias e pouco sobre como andavam vestidos pelos sertões.
Expedições que geralmente partiam de São Paulo e eram organizadas com o fim de capturar índios e sobretudo encontrar ouro e pedras preciosas, as bandeiras existiram do século 16 ao 18.
A captura de indígenas para serem vendidos como escravos foi a base da economia paulista até o século 17. Naquela época, essa prática era tão lucrativa que era chamada de "negócio do sertão". No período que vai de 1630 a 1680, algumas fazendas tinham mais de cem escravos índios.
Seja em busca de ouro e outras pedras preciosas, seja em busca de índios para aprisionar e vender, os bandeirantes enfrentavam uma série de perigos e desconfortos: ataques de onças; picadas de cobras, aranhas e insetos; doenças; sem falar na própria resistência oferecida pelos indígenas...
E foi provavelmente no istante que o bandeirante regressando das selvas onde ele havia passado meses, embora da casa e gente, tocou o violão. Talvez o tocou e cantou nas festas religiosas nas vilas onde os homems e as mulheres se reuniram para os ritos religiosos, dançando a caterete dos povos indigenas.As mulheres e crianças que para muito tempo permanecevam nas fazendas com os escravos para coltivar as terras, talvez cantavam no trabalho. Muitos deles tambem jà com raizes indigenas, filhos de mâes indigenas e assim com cultura de musica indigena e branca, tocando o violão e a guarapeva, chocalhando maracás, etc.E como acima descrito de seguro foi tambem importante saber tocar o violão para razões de "prestige" e um certo "ser nobre".
(texto: " historias e lendas de Santos, Novomilenio)
A Vihuela tinha três denominações distintas: vihuela de mano (em nada diferente do violão atual), vihuela de arco e vihuela de plectro.
A Vihuela de mano constava de cinco cordas duplas mais a primeira que era simples. Os vihuelistas além de precursores dos guitarristas do século XVII, foram também criadores de métodos e formas musicais que serviriam de base para toda a música instrumental que viria depois. A vihuela é um instrumento que alcança seu máximo esplendor na península Ibérica durante o século XVI, em torno de um ambiente cortesão e sobre as capelas musicais de reis e nobres.
"Pouco sabemos da prática da viola no Brasil no século XVI. O musicólogo José Ramos Tinhorão (1990) afirma que "a mais antiga referência expressa a versos cantados pelo personagem de uma comédia encenada em 1580 ou 1581 na matriz de Olinda, por ocasião da festa do Santíssimo Sacramento, aparece nas "Denunciações de Pernambuco", de 1593, confirmando desde logo a ligação da viola com a canção citadina". No Sudeste, ela está presente em inventários a partir do início do século XVII. Em 1613, violas foram catalogadas em espólios deixados na cidade de São Paulo.
O padre José de Anchieta, o mais importante nome no processo de catequese dos indígenas no início da colonização do Brasil pelos portugueses, sustentou todo o seu projeto pelo uso da música e das práticas teatrais. Ele percebeu que os indígenas, com os quais travou contato, utilizavam a música como veículo de intermediação com o mundo sagrado. O general Couto de Magalhães (1940), sertanista brasileiro que viveu no século XIX, afirmou, em seu clássico "O selvagem", que o padre Anchieta se utilizou do cururu e do cateretê, duas danças de origem tupi, para catequizá-los. Para isso inseria textos litúrgicos nas melodias e danças desses índios. Anchieta tratou de aprender o tupi-guarani e o trouxe para um molde de estruturação gramatical latino inserindo termos em espanhol e português aos vocábulos faltantes na língua. Essa língua recebeu o nome de nheeng'atu. Seria plausível imaginarmos que a viola, instrumento harmônico, pode ter sido utilizada nos acompanhamentos dessas danças, pois até hoje a utilizamos para acompanhar o cururu ou o sapateado e palmeado do cateretê. Junto das violas, os portugueses tocavam também flautas, pifes, tambores e gaitas, e aliaram a isso as maracas, buzinas e flautas indígenas.
A viola, desde então, fez parte do cotidiano do povo que aqui foi se criando. Aos poucos foi se espalhando nas empreitas dos bandeirantes e tropeiros, e, em emergentes cidades como Recife, Salvador e Rio de Janeiro, sua prática tornou-se habitual. "
texto por Ivan Vilela, 2010
Fontes e textos citados:
- Projeto compartilhar
- Gestao de Iniciativas sociais
- Genealogia Paulistana,
- musica de Sao Paolo - Ivan Vilela (pdf)
- a musica na cidade de Sao Paulo - Claudia Aparecida Polastre 2008
- historia do violão
- historias e lendas de Santos
- caipira e viola brasileira
- Wikipedia